28.11.24

Talk Radio (1988) - Eric Bogosian mostra o que acontece quando não se tem papas na língua

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Eric Bogosian dá vida para Barry, um radialista que subverte as tradições do rádio sem papas na língua usando o atrito ideológico e sua fúria para vomitar suas ideias e emoções caóticas. "Talk Radio" (1988) é mais do que uma crítica à fama e à mídia tradicional; é uma exploração profunda da alienação cotidiana. No centro dessa história está Barry Champlain, um apresentador de rádio interpretado por Eric Bogosian, que usa sua raiva e suas palavras para desafiar e cativar sua audiência.


O que torna a atuação de Bogosian tão poderosa é a maneira como ele incorpora Barry, uma figura perturbadora e necessária. Barry entende o poder das palavras como poucos, utilizando-as como armas para atacar qualquer um à sua volta. Por quase duas horas, acompanhamos Barry navegando entre temas banais e discursos de ódio com um sarcasmo afiado e uma fúria incontrolável, sempre testando os limites.


Barry é um personagem complexo, cuja raiva serve tanto para impulsionar a narrativa quanto para revelar seu egocentrismo e suas aflições. Ele enfrenta seus colegas e superiores sem filtro, chegando a um ponto de autossabotagem. Mesmo quando seu programa está prestes a se tornar nacional, ele não se cala, sempre ultrapassando novos limites.

A relação de Barry com sua ex-esposa Ellen, interpretada por Ellen Greene, adiciona camadas ao seu personagem. No programa, ele a trata com a mesma brutalidade que trata seus ouvintes, revelando sua incapacidade de lidar com suas próprias emoções.

O filme expõe Barry de maneira crua, mostrando seu passado e sua ascensão no rádio, até culminar em um desespero emocional que o sufoca. Ele mantém uma relação de amor e ódio com seus ouvintes, que permanecem ligados a ele, seja por identificação ou repulsa.
 

Oliver Stone dirige "Talk Radio" com maestria, criando um ensaio sobre o poder das palavras e a batalha interna de Barry contra o mundo. As cenas dentro da estação de rádio são eletrizantes, com diálogos intensos que nos deixam tensos, esperando que algo dê errado. No entanto, os flashbacks e a introdução de outros cenários quebram um pouco o ritmo, deixando a desejar.

Apesar disso, o filme destaca a importância de como nos expressamos e o impacto que nossas palavras podem ter. "Talk Radio" é um lembrete poderoso de que, mesmo em um mundo onde a interação era mais local e menos digital, o poder da voz e da palavra sempre foi capaz de provocar mudanças profundas e perigosas.


O flerte com a realidade é o que adiciona um tensor ao filme, ao perigo de como se articula uma ideia, uma mensagem, pois nunca sabemos o limite de quem está ouvindo. Tudo bem que hoje temos uma dinâmica diferente entre a mensagem e o receptor, “a internet aproximou as pessoas na mesma medida em que as afastou, criando simulacros de sentimentos que só existem em bolhas irreais” (BRASIL e PITANGA, 2017), assim diante de tantas atrocidades que acontecem a partir de discursos na rede, não é difícil enxergar a volatilidade da empatia criada em um período onde a interação era mais local, os objetos estavam ao alcance um do outro e o anonimato costumava ser uma via de mão única.

Essa experiência visceral da verdade dita, quando não falha por essas cenas além da rádio, do porto seguro de Barry, é o que torna Talk Radio um filme ainda relevante e interessante.

REFERÊNCIAS:
BRASIL, S.; PITANGA, F. Cinema ou um espelho distorcido da realidade. Revista Cult, 2017. Disponível em: revistacult.uol.com.br/home/cinema-ou-um-espelho-distorcido-da-realidade/. Acesso em: 17 de mai. de 2024.

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