Sei que vai chover, não preciso olhar para cima, sinto na minha pele
Mas somos curiosos, e olho assim mesmo, nuvens carregadas
apenas, nuvens carregadas
O cheiro da chuva poderia estar menos forte se eu não tivesse olhado
Nunca vou saber, mas na frenesi do maldito cotidiano
Na melancolia da água que está por vir, para lavar as nossas almas
Tomando a minha atenção, meu olhar, há o poste
Química e minerais, um monumento singular da sociedade contemporânea
Orgulhosa por cada centímetro desse amaranhado de cobre e plástico
Orgulhosa por cada tensão que distorce a sua natureza
Esses nós, agora, no escuro
São nós como da garganta
Não de hoje ou de ontem
Mas de décadas de desespero sem grita
Décadas de feridas sem chora
E dentro desse maldito edifício de cimento
O coração pulsa, ou pelo menos tenta
Eu deveria agradecer a chuva
Agradecer as plantas que resistem na Babilônia
Mas que que se foda,
Enquanto sento, respiro, choro, grito, gargalho, me afogo
Vendo a perfeição queimar até o chão
—Imagem do autor (02/2025)
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