4.1.25

Colar de memórias

O tilintar tirou meu sono
Pequenas memórias que cantavam ao tocar as pedras no fundo da caixa
Viagens a lugares que não existem mais, a momentos que não existem mais
Mas nunca foi razão que busquei ao lembrar

Há também uma força quente
Que envolve essas memórias em amor e manipula como se fossem pedras em um colar ou qualquer coisa assim

Tudo bem, estou dormindo agora

***

2.1.25

Quebra ondas

As ondas que quebram na costa 
Violentas como o passado que se esmigalha por detrás dos olhos
E o mar puxa furioso
O pouco que resta de suspiros, mas deixa a dor do tempo implacável
Enquanto o sol se põe no horizonte
As pegadas na areia se transformam em melodias esquecidas
Melodias esquisitas, esguias, murmúrios, lástimas, lágrimas, sangue

As pegadas então queimam
De fora para dentro, até os ossos
Além dos ossos
No vazio, aquele profundo e perdido

As brisas encobrem os suspiros
As brisas encobrem os soluços
As brisas encobrem as lembranças
E quando o mar toma de volta o que é seu
Não há mais nada do que um dia existiu ali
Ao menos, que seja doce

***

1.1.25

Ao chegar ao chão

O sol negro planta escuridão
E o luar vermelho jorra sobre as planícies
Há um vazio nesse meio, um espaço em branco
Mas preenchido de cores indistinguíveis
O cheiro de medo, destino, e fascínio... Desespero
Essas amarras puxam meus ombros, e meus joelhos racham

Tô preso a esse duotone, agridoce
Caído sobe esse duotone, agridoce
A sombra perdida na noite
A gota perdida na poça de sangue
A lágrima que evapora antes mesmo de escorrer
Ou escorre, e simplesmente se acaba

***

25.12.24

Eco

 

Sou apenas mais um eco nesse vasto espaço,

Com ondas que se espalham e enfraquecem,

Até que nada resta, apenas o que um dia esteve ali,

E agora, nunca mais estará.

24.12.24

Her Odyssey I

Faz um tempo que eu não jogo algo que não tenha criado, mas, nesses últimos dias do ano, decidi explorar jogos que peguei no itch.io, especialmente TTRPGs (tabletop role-playing games) no formato de diário. Esses jogos são solo e permitem uma experiência narrativa mais pessoal, ideal pra quem não tem muito tempo ou uma galera pra fazer uma mesa.

Escolhi começar com Her Odyssey, de S. Kaiya J. (https://mirror-lock.itch.io/her-odyssey). Ele é um jogo solo sobre uma personagem andarilha, com regras simples e liberdade criativa para desenvolver a história.


21.12.24

O que é arte


Procura-se autor dessa obra.

Afogado em leituras que mixam reflexões e críticas sobre como o cinema e os jogos eletrônicos se aproximam e distanciam, assim como a realidade se distorce a cada geração tecnológica de experiências, me peguei pensando sobre O QUE É ARTE.

Essa palavra dolorosa tem sido uma incógnita há alguns anos, a ponto de eu sequer identificar arte no meu próprio fazer arte.

Mas, com os pés molhados embaixo do sol quente e tentando não pensar na insignificância da vida mundana, algumas ideias começaram a esquentar na minha cabeça, e é claro que eu nunca vou concluir o que é arte — tal como eu estou pouco me fudendo para o que você ou outras pessoas acham que é.

Porém, nós precisamos de um chão, de um significado, um pouco de sanidade mesmo que no escuro... eu acho.

ARTE é um esforço frustrado da humanidade em por em palavras, formas, desenhos ou sons aquilo que se sente. Frustrado pois enquanto não conseguirmos remover e inserir uma experiência entre pessoas, nada irá traduzir essa experiência.

De certa forma, pelo menos neste momento, entendo que a arte é essa ilusão solitária de que estamos propagando algo, mas não passa de um olhar otimista, pois ninguém sabe o que estamos fazendo.

Cada realidade criada a partir de uma obra é subvertida, destruída, mastigada, pela realidade criada a partir dela por quem a aprecia.

Entender o que é a arte não vai mudar minha vida ou a sua, mas tem certos mistérios que não conseguimos ignorar, e por mais que ninguém se entenda, vamos sempre continuar fazendo essa merda.

Nota: isso não é um esforço intelectual, uma concepção acadêmica ou mesmo uma formulação teórica. É uma poesia, não entendeu?