02 julho

As redes sociais venceram, ou quase

Originalmente publicado no Substack em julho de 2025.

I.

Interessante. Na última (primeira) edição dessa newsletter te falei sobre a pressão contemporânea da produtividade… você precisa fazer mais, você precisa se dedicar mais e assim por diante. E então, vim por esses dias tentar organizar minha própria rotina produtiva, não de trabalho, mas a artística. Foi nesse momento que eu notei que não existe mais rotina artística na minha vida; o criativo se tornou trabalho. Até mesmo assistir filmes e jogar, que são duas das coisas que mais amo fazer, caíram nas graças da monetização—não me refiro apenas ao dinheiro, mas views, likes, fucking engajamento.

Me vejo desenhando pra postar no Instagram e ganhar views, quem sabe vender uma tatuagem. Estou criando conteúdo sobre cinema no TikTok para tentar engajar os usuários no meu Letterboxd e quem sabe, tornar minhas críticas um ganha pão. Tenho criado conteúdo para o YouTube para tentar monetizar e me enfio em projetos de design focado em “conteúdo” que sugam minha criatividade em trocar de alguns trocados/hora pra pagar contas—e fica tudo uma bosta, criatividade processada, rasa.

Não estou reclamando, a gente precisa fazer o corre, mas queria compartilhar esse feeling de que tudo o que eu faço hoje, parece ser feito para atingir “visibilidade” e consequentemente, monetizar. Talvez você sinta o mesmo ou já tenha sentido, com sorte, vai achar outro caminho antes de sentir isso. Mas olhando um pouco de longe, definitivamente é o que as redes sociais tem feito comigo.

Nós equiparamos nossas vidas com a vida de influenciadores e pessoas que admiramos e tiveram sucesso… mas não consideramos que há 8 bilhões de pessoas no mundo e essa galera é apenas uma fração de 1% da população (0,0000…). Se você está nos 20 ou começando os 30 (como eu) e se sente uma merda (de vez em quando ou na maior parte do tempo), não é por sermos um fracasso, mas por sermos alienados pela mídia e oprimidos por padrões sociais extremamente distópicos e sem sentido. Somos desumanizados e transformados em máquinas. Há quem tema o futuro onde a I.A. vai dominar o mundo e acabar com a raça humana… lamento informar, mas a I.A. não vai precisar ter esse trabalho, estamos lentamente permitindo que consumamos à nós mesmos, assim, de dentro para fora.

Pare de criar, sua criatividade agradece

Originalmente publicado no Substack em Abril de 2025.

I.

Você precisa parar de se sentir culpada por fazer nada… e eu também.

Já faz algum tempo que tô arrastando esse feeling, e tentando me livrar dele. Essa sensação de que se não estou produzindo algo—escrevendo essa newsletter, gravando um podcast, algo do trabalho ou do mestrado—, estou perdendo tempo.

É, eu imagino que você já tenha sentido isso também. Nós estamos tão viciados em sermos produtivas que não sabemos mais ficar no tédio. Ficar sem falar dá crise de ansiedade, ficar sem se mexer causa angústia, 10 minutos de silêncio parecem uma eternidade, e um dia sem fazer nada é como ficar em dívida com o nosso futuro.

O que é o futuro, se não um delírio? Não, não vamos por esse caminho rs. Estou lendo Byung-Chul Han agora. O segundo capítulo da minha dissertação fala exatamente disso, da Sociedade do Cansaço; um pente fino observando nossos hábitos destrutivos que estão mascarados de progresso e conquista, mas no final, em busca desse “sim, nós podemos”, a frustração do que poderia ser apenas um erro, aprendizado e tentar novamente, nos bate como um fracasso, e nos cobre com a depressão ou um belo burn-fucking-out.

Mas, estou aprendendo a lidar com o tédio, conheço pessoas que estão nessa jornada, e você talvez esteja também. TUDO BEM FAZER NADA, pois o fazer nada é fazer alguma coisa, sim. Na verdade, é nesse fazer nada que nossa mente e espírito—não no sentido religioso, mas transcendente— conseguem digerir os pensamentos, colocar eles em novas perspectivas. Não é atoa que dizem que não se deve tomar decisões sob pressão.

A criatividade funciona assim também. Quanto maior a pressão, maior a chance de apenas vomitarmos uma releitura mal feita de qualquer merda, ou ainda um plágio inconsciente.

Como criei um campo de comentários para meu Blog

Há bastante tempo venho tentando criar uma “simples” caixa de comentários para os posts do blog. O que parecia ser uma tarefa fácil acabou se tornando uma das maiores desventuras que já enfrentei como coder amador. Passei horas pesquisando possíveis soluções e, na maioria das vezes, encontrava artigos e tutoriais que recomendavam o uso de serviços de terceiros, como Disqus ou o próprio Github. No entanto, como desenvolvi este site do zero, codando linha por linha, minha intenção sempre foi depender cada vez menos de plataformas externas, que acabam se tornando quase “proprietárias” do conteúdo que publico.



Buscando alternativas menos convencionais (e mais desafiadoras), encontrei alguns caminhos interessantes. Percebi que criar a caixa de comentários em si não era o maior obstáculo, mas sim encontrar uma forma de armazenar os comentários em um servidor próprio. Testei soluções como Firebase, Google Script e várias outras, mas falhei miseravelmente em todas. Até conseguia enviar o comentário para o banco de dados, mas ele nunca retornava corretamente. Foi então que, com um bom prompt e muita paciência, recorri ao Gemini e ao Claude para explorar possibilidades e validar, com calma, as melhores opções entre as LLMs.

No fim, encontrei uma solução. Talvez não seja a ideal, mas funcionou. Basicamente, criei um formulário de comentários usando HTML, CSS e JS, e utilizei o Supabase como banco de dados. No Supabase, consegui armazenar e organizar os comentários pelo slug da URL, permitindo que cada post do blog tenha sua própria área de comentários. Como tudo o que faço nasce da curiosidade rs, gosto de compartilhar o que aprendo. Por isso, deixo aqui o caminho que trilhei para criar essa funcionalidade — quem sabe pode ser útil para você também.

Se você quiser ir direto ver o código do projeto, eu deixei ele disponível no Github.

19 abril

Sexta Santa


Eu acordei durante a madrugada. Não tenho certeza se sequer dormi ou alucinei de exaustão.

Caminhei por algumas horas de manhã... me despi da solidão e sai. 

Vi o sol nascer e senti meus pés começarem a doer até a fome incomodar mais do que os pensamentos.

Havia uma bolsa de agonia esmagando meus pulmões, e aquele desafio constante de aceitar que o hoje é a única verdade, que o ontem não existe mais e o amanhã é apenas um delírio.

Não consegui chorar quando lembrei do meu melhor amigo e do calor da presença dele, algo que nunca mais vou sentir. 

Foi agridoce, pois apenas ele me fazia sentir bem quando dizia que "tudo vai ficar bem". Fora o sangue, acho que esse foi o único amor que conheci.

Apenas ecos. Eu me sustento sobre ecos. Eu me alimento desses ecos. Uma reprogramação constante da mente para não deixar que tudo simplesmente acabe. 

O esforço mor para nadar contra a correnteza que sempre me abraça com carinho em seu convite para a escuridão.

Queria chorar por coisas bonitas. Mas estou aqui, sendo engolido pelo tempo em tantas realidades distintas, que não sei mais o que é prazer ou o que é dor.


16 abril

O futuro, relações humanas e IA's — Observando simulacros de Blade Runner a Detroit Become Human

Você pode ouvir este conteúdo no Spotify.


Diante do maravilhoso mundo dessas ferramentas generativas, você já se perguntou "como você se sente", sobre o que elas fazem, sobre o que elas são e sobre o que elas te proporcionam? Talvez você interaja com as máquinas sabendo que são apenas máquinas, mas não é incomum que as pessoas também sintam uma relação mais profunda, uma espécie de hiperrealidade, onde o envolvimento emocional é tão grande que a pessoa apenas ignora o quão artificial é a ferramenta. E é isso que vamos explorar um pouco, essa relação dicotômica entre humanos e máquinas, que já deu muito pano pra manga, e hoje, diante de uma interação tão grande com "máquinas que aprendem", parece que a Inteligência Artificial da ficção está à caminho.

Baudrillard, um sociólogo francês da pesada, já falava disso em 1981 no livro Simulacros e Simulação, que já foi suporte para muita reflexão e também obras que miravam o futurismo e cyberpunk. Essa ideia da hiperrealidade é aprofundada neste livro, mas agora, para nós, ela serve apenas para estabelecer esse pensamento. Humana e máquina.

Cena de The Matrix (1999) onde Neo segura o livro Simulacros e Simulação

Essa treta não é nova, Mary Shelley deu vida à criatura de Frankenstein ainda no século XIX e já colocava essa provocação sobre a interferência de um ser artificial na humanidade. Esse Monstro também simboliza as fronteiras incertas entre o homem e a máquina, a vida e a morte, e foi um presságio do que muita gente tem medo hoje: um futuro tecnológico que coloca em xeque a nossa própria compreensão do que significa ser humano.