02 julho

Pare de criar, sua criatividade agradece

Originalmente publicado no Substack em Abril de 2025.

I.

Você precisa parar de se sentir culpada por fazer nada… e eu também.

Já faz algum tempo que tô arrastando esse feeling, e tentando me livrar dele. Essa sensação de que se não estou produzindo algo—escrevendo essa newsletter, gravando um podcast, algo do trabalho ou do mestrado—, estou perdendo tempo.

É, eu imagino que você já tenha sentido isso também. Nós estamos tão viciados em sermos produtivas que não sabemos mais ficar no tédio. Ficar sem falar dá crise de ansiedade, ficar sem se mexer causa angústia, 10 minutos de silêncio parecem uma eternidade, e um dia sem fazer nada é como ficar em dívida com o nosso futuro.

O que é o futuro, se não um delírio? Não, não vamos por esse caminho rs. Estou lendo Byung-Chul Han agora. O segundo capítulo da minha dissertação fala exatamente disso, da Sociedade do Cansaço; um pente fino observando nossos hábitos destrutivos que estão mascarados de progresso e conquista, mas no final, em busca desse “sim, nós podemos”, a frustração do que poderia ser apenas um erro, aprendizado e tentar novamente, nos bate como um fracasso, e nos cobre com a depressão ou um belo burn-fucking-out.

Mas, estou aprendendo a lidar com o tédio, conheço pessoas que estão nessa jornada, e você talvez esteja também. TUDO BEM FAZER NADA, pois o fazer nada é fazer alguma coisa, sim. Na verdade, é nesse fazer nada que nossa mente e espírito—não no sentido religioso, mas transcendente— conseguem digerir os pensamentos, colocar eles em novas perspectivas. Não é atoa que dizem que não se deve tomar decisões sob pressão.

A criatividade funciona assim também. Quanto maior a pressão, maior a chance de apenas vomitarmos uma releitura mal feita de qualquer merda, ou ainda um plágio inconsciente.

Lembra de quando você era criança? A sua imaginação não era mais aflorada e você não era mais criativa, apenas tinha menos amarras, não havia a pressão das convenções sociais sobre seus ombros, quase como um constante estado de contemplação.

Abstrair, se desconectar, estar em outro lugar—físico ou sensorial—é o que vai permitir que a sua perspectiva mude suas ideias, misture, distorça, transforme, crie. Eu sei que nem todos temos esse luxo, pelo menos não todo o tempo. Mas se houver tempo, experimente.


“Quem se entedia no andar e não tolera estar entediado, ficará andando a esmo inquieto [...] Mas quem é tolerante com o tédio, depois de um tempo irá reconhecer que possivelmente é o próprio andar que entendia. Assim, ele será impulsionado a procurar um movimento totalmente novo.” —Byung-Chul Han, Sociedade do Cansaço.

Eu acabei falando um pouco sobre essa aceleração contemporânea que transforma a gente em máquinas de desempenho no Rizo Podcast. É um áudio de 4 minutinhos que busca incentivar a galera a pensar sobre o seu próprio ritmo, talvez você goste. Vou deixar aqui.

II.

Assisti uma obra perfeita nessas últimas semanas. Dias Perfeitos (2023) é um filme do Wim Wenders que acompanha a rotina de Hirayama, um zelador de banheiros públicos de Tóquio e também explora a sua perspectiva da vida e suas paixões. A rotina é lenta, mas super profunda. Falamos agora sobre a vida acelerada, e o que ele vivencia parece ser outra forma de resistência a isso, uma maneira de buscar apreciar plenamente a rotina.

Pra quem é PJ ou não tem rotina, bom, vocês entendem o quanto isso ajuda a manter a sanidade. Notei também uma relação muito intensa entre o ritmo e a cinematografia desse filme com Paterson (2016), de Jim Jarmusch, onde acompanhamos um personagem que é motorista de ônibus e poetas no tempo livre. É muito mágico como se pode criar narrativas incríveis e sensível com o ordinário, com o dia-a-dia.

Você manja algum filme que tenha essa característica mais lenta e explore a rotina? Compartilha nos comentários. E se você não viu Dias Perfeitos, mas tem curiosidade, deixa um “alô” nos comentários também e eu te envio um convite pra você assistir no MUBI (tenho alguns gifts limitados).

III.

Tenho lido muito sobre simulações, simulacros e realidades virtuais. Não atoa, também venho assistindo vários filmes que permeiam sci-fi e cyberpunk, dos clássicos aos indie, e também alguns jogos. Com toda essa treta acontecendo nos Estados Unidos e no mundo, avanço tecnológico, governos repulsivos, tenho tido essa sensação que a distopia já não é mais tão ficcional.

Claro que não fico fritando nisso, não é saudável e não vou te arrastar pra isso, mas queria compartilhar um texto que fiz, pensando justamente nesse momento que vivemos e é um grande divisor de águas do nosso comportamento como sociedade.

Tem um pouco de Blade Runner, Jean Baudrillard e Detroit: Become Human, e uma viagem na maionese sobre as questões filosóficas de nossa relação com essas quase inteligências artificiais. Tá tudo aqui.

IV.

Finalmente comecei a jogar Death Stranding com o GeForce Now (é uma plataforma de jogo na nuvem onde você consegue jogar qualquer título que possua em uma biblioteca Steam, GOG, XBOX ou Epic, super legal!). O protagonista, Sam, é interpretado pelo Norman Reedus, o querido Daryl de The Walking Dead, sem falar que tem uma galera de peso, como Lea Seydoux e Mads Mikkelsen.


É um jogo super interessante, onde você é um “entregador” em um futuro distópico e fudido. Você passa a maior parte do tempo caminhando… mas confesso que é uma experiência extremamente imersiva, pois esse caminhar consegue mudar a sua atenção, quase que te por em um estado de mindfulness, uma meditação em movimento, porém, não chega lá pois existem adversidades das quais você precisa estar atenta. Mas é quase.

Inclusive, tem pessoas que fazer experiências de caminhada, instalando uma esteira como joystick, e simplesmente caminha na esteira enquanto o personagem caminha no jogo e boy! são muitos quilômetros que esse carinha anda no jogo.

Tenho observado muito isso. Esses jogos de mundo aberto que servem como uma “fuga” da nossa realidade, uma busca por estar em uma realidade alternativa, livre das regras e obrigações do mundo comum e imersa em outras configuração da vida. Isso é poético? Definitivamente. E possível? Com certeza. Eu, pelo menos amo estar no mundo do The Witcher, vagando pelas aldeias e ouvindo conversas, ou caminhando na natureza em Red Dead Redemption, e mesmo explorando Hogwarts em HogwartsLegacy.

Ainda quero falar melhor sobre isso, mas por agora, além de recomendar que você jogue Death Stranding ou ao menos assista alguma gameplay, também queria sugerir uma série da Netflix chamada A Extraordinária Vida de Ibelin (achei um link do Google Drive pra quem quiser quebrar as regras rs, e a legenda está aqui). Esse documentário mostra a vida de um garoto que teve uma vida curta marcada por limitações físicas devido a uma doença. Porém, após a morte dele, descobrem que ele tinha uma outra vida dentro do jogo World of Warcraft, onde ele fazia e vivia tudo aquilo que não podia na realidade.

V.

Algumas coisas que você pode achar interessante:


VI.

Retomar minha newsletter foi uma decisão difícil, mas a ideia principal é ter um espaço para compartilhar o que ando criando, lendo, assistindo e podem ser interessantes pra você. Caso você opte por se desinscrever, tudo bem, se quiser, pode acompanhar tudo também me seguindo no Instagram.

O plano é vir fazer essa troca com você e a galera uma vez por semana ou a cada quinze dias. Você também pode cancelar o recebimento do e-mail e acompanhar as atualizações habilitando a notificação no aplicativo do Substack, mais complicado, eu sei, mas é uma opção.

Até logo,

xoxo

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