26.4.15

A chuva

Uma trovoada ensurdecedora me despertou, como um rugido feroz e esmagador, intimidando até a mais corajosa das criaturas. Respingos caiam sobre minhas partes desnudas, como garoa leve e monótona, um assobio longo incomodava meus ouvidos, e minhas narinas se esforçavam para respirar debilitadas pela gripe. A escuridão dominava o ambiente. Levantei-me, escorando-me nas paredes, explorando o lugar, procurando uma porta. De tempos em tempos, relâmpagos explodiam do lado de fora e o flash repentino expunha fragmentos do local por um breve segundo.

Ouvi gritos, agoniantes, e me alarmei de imediato. Consegui encontrar uma porta, saindo para o que eu imaginei ser um corredor. Os gritos continuavam, avancei, deslizando a mão sobre a parede descascada, até encontrar outra porta, e detrás dela vinham os gritos, desesperados. Ouvi algumas vozes e risadas maquiavélicas, tratei de empurrar lentamente a madeira da porta, imaginei que fosse velha, a superfície enrugada e desgastada empurrava farpas contra meus dedos.

Outro grito ecoou, quando um relâmpago estourou do lado de fora e flagrei brevemente a silhueta de dois homens, e uma mulher ao chão. Avancei de imediato sobre eles, as cegas. Abracei o primeiro, empurrando-o contra a janela, os vidros estouraram, ele me empurrou para fora, senti a chuva me molhar, passei as mãos em volta e agarrei firme um caco de vidro, cravei-o com força no pescoço do desconhecido. Ele gritou como um porco, então ouvi seu corpo tombando. Ouvi passos se intensificando em minha direção, e quando senti o outro homem tocando meu ombro, acertei um tapa em sua face, e quando atordoou, girei-o em torno do meu corpo e o empurrei contra a janela quebrada, e de lá ele despencou.

Respirei fundo, ainda com a adrenalina aflorada. Agachei-me e encontrei a moça, pelos seus soluços e corpo trêmulo. "Está tudo bem" eu disse, abracei-a e a ergui. Com a mão ensanguentada, senti os pedaços daquela maldita casa rasgando o pouco que restava da minha pele enquanto eu a passava nas paredes me guiando em busca de uma saída. Logo, a chuva cobriu todo meu corpo, e o inferno ficaria para trás.

10 comentários:

  1. Maravilhoso texto, gostei muito do seu blog :)

    Bjs =*

    www.faroestemanolo.com.br

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  2. Nossa, gostei tanto desse escrito. É um conto, é seu?
    Escreves tão bem. A imagem, musica.. muito boa suas colocações.

    Um abraço, amigo.

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    1. Oi Anite, é um conto meu sim, foi uma elaboração pra um trabalho da faculdade rs

      Obrigado pelas palavras <3

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  3. Muito forte o texto, e muito bom.

    Abraços.

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  4. Adoro contos que me fazem sentir a mesma coisa que o protagonista sente, e o seu texto foi um desses. Chuva é um elemento que causa um mistério tremendo e as suas palavras se aproveitaram muito bem disso cara, parabéns. O único problema que encontrei no seu texto foi a pontuação que algumas vezes estava errada, mas isso não faz mal porque o que importa é a gente entender o que o autor quis transmitir. Uma dica que te dou é ler e reler várias vezes o texto em voz alta, porque assim conseguimos perceber os momentos de pausa.

    Beijos,
    Gabriela.
    http://viagem-a-terra-do-nunca.blogspot.com.br/

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    1. Olá Gabriela,

      Fico feliz que tenha gostado, e sei que pontuação é um vício que eu tenho rs e acredite, eu me esforço, mas quanto mais releio, mais viciado fico e mais as coisas passam batido. Mas se tu achar algo ali e quiser destacar, eu posso alterar :D Isto é para tu e os leitores também, compartilhado ^^

      Obrigado pela visita <3

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  5. Se esse trecho já me fez curtir pra caramba a tua escrita, imagino um livro inteiro! *-*

    Tw mandei um e-mail, viu?

    Beijo
    Beinghellz.blogspot.com

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    1. Olá Hellz,

      Obrigado pelas palavras! E eu não recebi o e-mail ainda :(

      <3

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