19 abril

Sexta Santa


Eu acordei durante a madrugada. Não tenho certeza se sequer dormi ou alucinei de exaustão.

Caminhei por algumas horas de manhã... me despi da solidão e sai. 

Vi o sol nascer e senti meus pés começarem a doer até a fome incomodar mais do que os pensamentos.

Havia uma bolsa de agonia esmagando meus pulmões, e aquele desafio constante de aceitar que o hoje é a única verdade, que o ontem não existe mais e o amanhã é apenas um delírio.

Não consegui chorar quando lembrei do meu melhor amigo e do calor da presença dele, algo que nunca mais vou sentir. 

Foi agridoce, pois apenas ele me fazia sentir bem quando dizia que "tudo vai ficar bem". Fora o sangue, acho que esse foi o único amor que conheci.

Apenas ecos. Eu me sustento sobre ecos. Eu me alimento desses ecos. Uma reprogramação constante da mente para não deixar que tudo simplesmente acabe. 

O esforço mor para nadar contra a correnteza que sempre me abraça com carinho em seu convite para a escuridão.

Queria chorar por coisas bonitas. Mas estou aqui, sendo engolido pelo tempo em tantas realidades distintas, que não sei mais o que é prazer ou o que é dor.


16 abril

O futuro, relações humanas e IA's — Observando simulacros de Blade Runner a Detroit Become Human

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Diante do maravilhoso mundo dessas ferramentas generativas, você já se perguntou "como você se sente", sobre o que elas fazem, sobre o que elas são e sobre o que elas te proporcionam? Talvez você interaja com as máquinas sabendo que são apenas máquinas, mas não é incomum que as pessoas também sintam uma relação mais profunda, uma espécie de hiperrealidade, onde o envolvimento emocional é tão grande que a pessoa apenas ignora o quão artificial é a ferramenta. E é isso que vamos explorar um pouco, essa relação dicotômica entre humanos e máquinas, que já deu muito pano pra manga, e hoje, diante de uma interação tão grande com "máquinas que aprendem", parece que a Inteligência Artificial da ficção está à caminho.

Baudrillard, um sociólogo francês da pesada, já falava disso em 1981 no livro Simulacros e Simulação, que já foi suporte para muita reflexão e também obras que miravam o futurismo e cyberpunk. Essa ideia da hiperrealidade é aprofundada neste livro, mas agora, para nós, ela serve apenas para estabelecer esse pensamento. Humana e máquina.

Cena de The Matrix (1999) onde Neo segura o livro Simulacros e Simulação

Essa treta não é nova, Mary Shelley deu vida à criatura de Frankenstein ainda no século XIX e já colocava essa provocação sobre a interferência de um ser artificial na humanidade. Esse Monstro também simboliza as fronteiras incertas entre o homem e a máquina, a vida e a morte, e foi um presságio do que muita gente tem medo hoje: um futuro tecnológico que coloca em xeque a nossa própria compreensão do que significa ser humano.