10 outubro

Somos artistas de merda

Me perdi olhando pela janela do 13º andar hoje. Choveu no Centro da cidade, meus pés molharam, mas tudo bem. Lembrei de algo precioso, que talvez tenha ficado no passado e senti aquela ansiedade pois não fiz o suficiente para que permanecesse no agora.


Você sabe o que eu quero dizer.

Me perdi no tempo também, pois enquanto o passado me deixava melancólico, eu vivia o presente  com a Bombom desenhando em freehand a tattoo que ainda iremos fazer... no futuro.

Indo embora, sob chuva, o pânico de não estar em casa parecia me moer de dentro para fora. Eu caminhei com dor nas pernas, nas costas e na cabeça. E enquanto me encharcava, também olhava para outras pessoas que estavam ali, sob a mesma chuva, sob um mesmo céu, sob um mesmo universo... tão patéticos.

Então, minha vista se tornou como esse giz caótico em um emaranhado de linhas, tal como meus pensamentos. E lá do fundo, veio um silêncio. Mas o tipo de silêncio que sufoca, e aos poucos tudo estava ali, melting, diante de mim, perdendo mais e mais o sentido.

Eu não conseguia conectar os pontos do porquê eu precisava caminhar. Ou mesmo estar vestindo roupas molhadas ao invés de andar nu. Por um breve segundo eu esqueci que precisava respirar. As cores não tinham mais nomes. Chorar camuflado na chuva era como a sensação de sorrir. Os prédios pareciam curvar em queda na minha direção, eu não corri.

Estaria mentindo se dissesse que sei quanto tempo fiquei parado na calçada. 

Em pé.

Todos os dias eu acordo pensando em como vou pintar um amanhã.

Todos os dias eu acordo pensando em como vou pintar um amanhã.

Todos os dias. A repetição é cada vez mais perigosa cansativa, como falar da morte de forma poética.

Mas...

Acho que assim, somos desiludidos artistas de ilusões, e que enquanto vivem não entendem o porquê a porra da tinta nunca acaba, mesmo quando tentamos jogamos o frasco no chão.

E pintura abstrata que é uma merda?

2 comentários:

  1. Oi!
    Adorei o texto, o tempo parece que engole a gente, né? Junto com as expectativas que temos para o tempo.
    Vou ficar devendo, mas vou ler seu conto, viu?
    Feliz Outubro!

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    1. oi Tenie! então, parece sim, tentar viver no momento presente acaba se tornando um desafio, tipo, algo pra buscar como disciplina diária né

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