É indescritível quando estou com vocês.
McCandless escreveu que 'a felicidade só é real quando compartilhada' e existe uma verdade absoluta nisso. Tão absoluta quanto a solitude ser uma virtude é mentira.
Há espaços na solitude que são como o golden ticket, onde temos tempo para respirar, para refletir sobre nós mesmo e com nós mesmo.
Mas existe também uma confusão, uma hiper estima ou expectativa de que estar só seja um momento quase transcendente. Não é. Há um prazer no recolhimento que sinto ser semelhante com a melancolia, nostalgia ou qualquer merda como essa. Eu entendo que precisamos de momentos para nós, mas a felicidade de McCandless é algo que pulsa na partilha e é nesse ponto que nós todos falhamos.
Não por não partilharmos, mas por projetarmos um futuro ou passado sobre o presente. Isso nos impede de viver o momento, e mais ainda, sabota o espírito daqueles que, como eu, vivem tudo intensamente. Acho que esse é o ponto disso.
Viver intensamente não significa estar profundamente apaixonado, não significa estar totalmente dedicado ou na ânsia por algo posterior, mas uma vontade que vem do âmago de estar presente e tornar isso duradouro ao máximo possível. Um fogo que queima tentando manter acesa a chama da troca imediata, da vontade de absorver e ser absorvido, da vontade de fazer de cada momento realmente único e significativo, uma memória que não se perde no tempo e no espaço, mas perdura, como Bachelard coloca, nos alvéolos da nossa mente, sensível e errática.
Acredito que muitas pessoas vão se identificar com isso. Nós amamos intensamente, por mais que seja algo pequeno, momentâneo, breve, é uma devoção às pessoas e aos eventos quase santificada. Esse amor não é a merda que Hollywood nos entrega, não são como as histórias que você lê, é algo que está além, que ressignifica e acrescenta valor ao momento.
Mas amar parece cada vez mais piegas, um erro, uma falha da matrix. Essa emoção já foi tão rotulada que ninguém parece compreender o que realmente significa e quando experimenta, tudo se torna um caos.
E vocês esquecem, mas nós somos o caos. Não nosso corpo, não nossa vida, apenas nossa mente. Não há nada além de 'poeira das estrelas' e da experiência. A poeira é o final derradeiro, o que nos torna seres simples e que deveriam ser mais humildes, e a experiência é aquilo que deveria permitir a intensidade, pois é nela que nós nos transformamos, aprendemos, evoluímos. É um processo violento no qual nós morremos e renascemos, muitas vezes sem perceber, pois estamos ocupados racionalizando, projetando, fritando sobre momentos e ações que deveriam ser apenas sentidas, compartilhadas.
Há beleza em estar só. Mas há esse algo que transcende quando se compartilha.
Hoje, acho que isso está claro pra quem está ao meu redor. Mas ainda há quem tem medo e não entende a verdade de gente como, e talvez você, que não quer se encher, mas transbordar de momentos. Transbordar de vocês. E não é para preencher algo, mas para que se tenha algo mais para estimar além de nós mesmos nos momentos de solitude. Como pode isso ser tão mal compreendido?
Longe disso ser um desabafo, acredito que é um estado real, que já vivi e muito testemunhei. A fucking felicidade só é real quando compartilhada. Agora, busque nos alvéolos da sua mente quando uma felicidade como essa foi forjada na solitude.
Falhe miseravelmente.
Acho também que não se trata de ter um fim, um limite. Os limites das relações são sempre claros, e lamento se você não deixa claro para quem está ao seu redor... acho que deveria cobrar de quem está à sua volta, não temos bola de cristal para desvendar o que está na mente de outrem. Dialogue. Se conecte. Clareza, limites, verdades, isso não deveria machucar, mas servir como uma ferramenta de construção de momentos, de profundidade, de respiro e respeito.
Dito tudo isso, ao mesmo tempo que nada dito. A solitude é fundamental, é prazerosa e necessária para crescer, evoluir, se compreender. Mas quando alguém quiser transbordar de vocês, deixem claro seus limites, sejam empáticos, e se possível transbordem também, pois estamos o tempo todo viajando no tempo, e o segundo que passou é como a poeira das estrelas, que se dispersa e nunca mais é alcançável.
— Não sei quem uma vez me disse que viver intensamente ou como se não houvesse o amanhã é inconsequente. Foda-se. Ame pra caralho, se doe pra caralho, não espere nada em troca e durma bem apenas por saber que você fez o melhor para tornar cada momento PRECIOSO na vida de outrem, tão incrível quando você gostaria que fosse na sua... pelo tempo que nos resta... ou nos damos.
Meu amor pra vocês... e se tu cagou para o que eu falei aqui rs bom, pelo menos você chegou até aqui. Foda-se.
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Obs: talvez isso seja muito para o Jorge e ele nunca vai ler, mas queria ter tido mais momentos com você irmão, mas obrigado por tudo, nos vemos do outro lado.
e a vida fica tão leve quando a gente toma consciência disso. que transbordar é muito melhor que preencher. que a solitude nos ensina a vivermos melhor com as vozes da nossa cabecinha e isso nos ensina a compartilhar essas vozes e transbordar junto com os nossos. sejam elas relações familiares, amizades, relações românticas. todas transbordando de intensidade e de amor. porque amor tem que transbordar e eu abraço a falha da matrix, o alvará de cafonice, a coisa toda com gosto. foda-se 🙂↕️
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